Política americana dominada por políticos idosos: surge debate sobre necessidade de renovação geracional no poder.

Nancy Pelosi, a famosa política americana e atualmente Oradora Emérita na Câmara dos Representantes, abalou o cenário político na semana passada ao anunciar sua intenção de buscar mais um mandato. Aos 84 anos, Pelosi, que é conhecida por sua experiência e habilidade em arrecadar fundos, recebeu reações de incredulidade e ceticismo.

A decisão de Pelosi vem em um momento em que a idade dos candidatos políticos tem se tornado uma questão relevante nos Estados Unidos. Ao contrário de outros países, onde a maioria dos legisladores é mais jovem do que a população em geral, os EUA são dominados por políticos mais velhos. Cerca de 1 em cada 5 congressistas tem mais de 70 anos, fazendo com que a política seja uma das profissões mais envelhecidas do país.

Diante dessa realidade, surgiram pedidos por limites de mandato, aposentadoria compulsória e até mesmo testes obrigatórios de competência mental para aqueles com mais de 75 anos. Na semana passada, o deputado republicano John James propôs uma legislação para impedir que pessoas com 75 anos ou mais durante o mandato concorressem à Presidência, vice-presidência ou ao Congresso.

Daniel Stockemer, professor de estudos políticos da Universidade de Ottawa, argumenta que a renovação de líderes é importante para a democracia, permitindo que novatos tenham espaço para liderar. Ele destaca que os membros mais velhos não devem ser excluídos, mas é necessário abrir caminho para uma nova geração.

A reação ao anúncio de Pelosi se insere em um debate maior sobre a crescente gerontocracia nos EUA. A saúde de senadores mais velhos, como o republicano Mitch McConnell, de 81 anos, e a democrata Dianne Feinstein, de 90 anos (que faleceu recentemente), também tem gerado preocupações. Além disso, o presidente Joe Biden, que aos 80 anos busca a reeleição, foi instado por outros políticos mais velhos, como Mitt Romney, de 76 anos, a dar espaço para a próxima geração.

Um estudo realizado pela Associated Press e pelo NORC Center for Public Affairs Research mostrou que três quartos do público acreditam que Biden é velho demais para continuar como presidente, incluindo mais de dois terços dos democratas.

No entanto, o desconforto em relação à gerontocracia nos EUA vai além de questões de saúde e competência. A sub-representação dos jovens na política pode levar à falta de atenção dos legisladores aos interesses dessa faixa etária, contribuindo para a apatia política entre os jovens.

Dados da Universidade de Ottawa mostram que a idade média do Congresso nos EUA é mais alta do que em outros países do G7 e na Rússia. Com apenas cerca de 7% dos membros do Congresso com menos de 40 anos, a representação e aprovação de leis relacionadas a questões importantes para os jovens americanos, como a ação climática, podem estar comprometidas.

O problema da sub-representação dos jovens na política não é exclusivo dos Estados Unidos. Segundo a União Interparlamentar, apenas 2,8% dos legisladores em todo o mundo têm menos de 30 anos, apesar de aproximadamente 18% da população global estar nessa faixa etária.

Para superar esses obstáculos, grupos como o Run for Something surgiram para fornecer treinamento, orientação e financiamento a jovens candidatos. Juan Ramiro Sarmiento, porta-voz do Run For Something, aponta que o governo atualmente é administrado como uma gerontocracia e defende a necessidade de uma “massa crítica” de políticos jovens para trazer mudanças.

Brandon Sakbun, candidato à Prefeitura em Terre Haute, Indiana, destaca que enfrentamos desafios diferentes dos enfrentados anteriormente e acredita que os eleitores estão cada vez mais dispostos a apoiar candidatos mais jovens em busca de novas ideias e soluções.

Em suma, a decisão de Nancy Pelosi de buscar mais um mandato colocou em evidência a questão da gerontocracia nos Estados Unidos. A idade dos políticos está se tornando uma linha divisória política, e a sub-representação dos jovens na política tem consequências importantes para a democracia e a tomada de decisões. É necessário um equilíbrio entre a experiência e a renovação para garantir uma representação mais ampla e efetiva dos interesses da população.

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